domingo, 11 de novembro de 2007

pedras



caminho das pedras
fotomontagem da Beá de desenho/costura que fiz


O que pensas das pedras? Ou melhor, o que percebes na pedra?

A pedra só é fria quando já virou tampo ou piso, uma pedra bruta jamais é fria, já reparou? A pedra é quente demais. Sabe o que eu penso? Que a pedra é uma manifestação, um instante paralizado no ato do acontecimento. Dá para imaginar? o tempo parou alí e quieto, vai se desfazendo, lentamente.

Já desenhei muito sobre isso, sobre a pariedade entre a pedra e as sementes e a questão de serem casulos. Casulo, a pele que proteje o ser enquanto ele muta. Processo que acontece a revelia da consciência, este véu-casulo venda, com suave gaze, quem está fora, assim como quem está dentro, ninguém sabe o que está acontecendo, mas sabe que está diferente. Não vê, está enclausulado pela pele dos olhos. Mas tá diferente. Os olhos da pulpa são os primeiros a se transformar, eles começam a ver diferente. Só depois começam a parecer diferentes.

E na pedra? O que muda? Ela vai despelando, lentamente o instante aprisionado se revela em tempo. E se esparrama sobre nós.

A semente já é puro conteúdo, alí dentro, compacto está um ser inteiro, que só precisa do tempo para se desenvolver. Mas, quer saber? Nunca foi propriamente a semente que me interessou, olho para a casca da semente, pro casulo. Que continua alí com o mesmo formato até se desfazer, apodrecer. Enquanto o ser cresce, o casulo apoderce e volta a ser terra.

Da pedra também mina a água, a pedra deixa a água escorrer. Na pedra não nasce nada, só caminha. Se caminha sobre as pedras, feito as águas. A água e o vento esculpem o tempo das pedras.

A pedra, de certa forma é o fogo. Contém o fogo, duas delas são capazes de libertá-lo. A pedra tem o calor, é o calor manifesto. Da memória da criação.

Será que podemos acessar nossa memória da criação? ...deve ser a mesma da morte. O nada. A possibilidade no escuro da não e da total consciência. O lugar vazio e pleno. Onde os opostos se deitam lado a lado e se tornam um. Lá onde se faz a criação. Pela morte. Pela dissolução.

Outra coisa que nasce das pedras são as cores. Todas elas. As que somos e que vemos. E as cores escapam e se misturam em novas combinações. O calor é outro que dá cor. O calor contido nas pedras.

A pedra continua sendo pedra mesmo partida em mil pedaços, só muito depois que vira areia...ou cor.

Sempre se cozinhou sobre pedras.

A pedra pode ser o casulo do fogo.
E o fogo pode ser o casulo do tempo

Enquanto houverem pedras, teremos tempo.

18 comentários:

anna disse...

minha casa tem uma parede enorme e que acho linda, de pedra. um alívo no verão e super agradável no inverno.

GUGA ALAYON disse...

e viva os Flinstones!

jayme disse...

Acho que a pedra é que é o casulo do tempo.

Anônimo disse...

acho que esse texto é o casulo que contém o fio condutor muito interessante do teu trabalho !

Maína Junqueira disse...

Conheci gente que acreditava serem as pedras fornecedoras do combustível dos OVNIS.
Depois conheci a Amelia, Senhora das pedras. As conhece de dentro pra fora.
Essa idéia da memória da criação é de arrepiar...

Silvia disse...

anna, acho que aquela parede pauta o aconchego da sua casa!

Silvia disse...

hehehe, guga, era divertido aquele desenho, pedra e bicho resolviam toda e qualquer tecnologia...

Silvia disse...

concordo com você, jayme,
é que no meio do pensamento entrou o fogo e a imagem das pedras ígneas, o momento da formação... aí ele acabou por se interpor entre a pedra e o tempo...

Silvia disse...

drake, texto-casulo ahahaha com o fio bem embaralhado!

Silvia disse...

Amélia Toledo é demais!

quanto aos ovinis, não conheço muito,mj,

mas sabia que ia gostar da parte da memória da criação...

Anônimo disse...

E lá no fim dos tempos, quando o Sol nos seus últimos extertores flamejantes, crescer de tamanho e for assando planeta por planeta do sistema solar, nossa terrinha vai virar só uma grande pedra derretida. Do fogo viemos, ao fogo voltaremos. Não vimos o início, não veremos o fim.

Anônimo disse...

Aí em cima, a antevisão do grande fogo final deu tilt no dicionário cerebral : "estertor" em vez de "extertor"

Silvia disse...

peri, todos os deslizes serão perdoados ante ao grande fogo final...nos estertores

mas se restarem as pedras, o tempo poderá recomeçar, e a memória talvez lá esteja, não acha?

Anônimo disse...


acho que restarão apenas pedras vaporizadas.Fumacinhas perdidas no éter.
Sem dúvidas novos tempos, talvez infinitos.

Silvia disse...

fumacinhas com memória, peri?

Anônimo disse...

Provavelmente. Ou pelo menos espero que sim , acho muito esquisito pensar em fumacinhas desmemoriadas.

GUGA ALAYON disse...

Peri,
fumacinha desmemoriada= maconheiro
É o que mais tem.
ahaha

Marcio Zamboni disse...

essa série de costuras sangrentas + tintas esfumaçadas é legal, interessante você estar retomando agora!