sexta-feira, 20 de agosto de 2010

flor de pequi



Este desenho conta uma história
a do dia que o meu braço direito recebeu a pintura da cobra

Haveria uma festa naquele dia: a dança do beija-flor e a flor do pequi. Ao redor da aldeia,as árvores de pequi estavam em flor. A oficina de cestaria dos homens tinha chegado ao fim. Um espírito andava se manifestando na aldeia. A festa começou a acontecer.
Logo de manhã, os homens já estavam se arrumando, são muitos adornos... Vi o Sagé vindo na praça todo paramentado: - Como você está bonito, Sagé! ele, orgulhoso, foi mostrando: as penas nos braços, as faixas de linha colorida junto das articulações, os cordões e as miçangas no quadril, os brincos de penas de tucano, a pintura do corpo todo com resina de jatobá misturado com o preto do carvão e com o vermelho do urucum... disse a ele que também queria pintar, queria pintar o braço. Ele me aconselhou a ir falar com o cacique e pedir a ele, me mostrou que eles estavam pintando atrás daquela oca. Fui lá, espiei, dei a volta da oca e dei de cara com o cacique e mais uns doze índios enfileirados se pintando na sombra da jaqueira. Fui chegando...dá licensa, bom dia Afucaca, bom dia, estão pintando, muito bonito, muito bonito... eu também gostaria de pintar, gostaria saber se posso,... Sagé mandou perguntar para o senhor... – Pode pintar, sim. Pode, mas não aqui, precisa falar com minha filha, alí, depois... aqui só homem, pode, vai. – Obrigada, vou lá falar com ela, dá licensa, bom dia. Fui até a cozinha de fora da casa do cacique, as mulheres estavam lá na lida da mandioca, trabalhando, como sempre. Expliquei, ela falou que me chamariam quando fossem pintar, depois. Mais tarde um pouco, o indio me procura na oca: - Quer pintar? Vamos lá fora. Aqui, senta. Sentei. – Quer aqui? indicando o antebraço. No braço inteiro, falei. – Põe a mão aqui, fica assim...e desenhou habilmente o padrão da cobra, recitando o grafismo que descia ao longo do meu braço.

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