caminho das pedrasfotomontagem da Beá de desenho/costura que fiz
O que pensas das pedras? Ou melhor, o que percebes na pedra?
A pedra só é fria quando já virou tampo ou piso, uma pedra bruta jamais é fria, já reparou? A pedra é quente demais. Sabe o que eu penso? Que a pedra é uma manifestação, um instante paralizado no ato do acontecimento. Dá para imaginar? o tempo parou alí e quieto, vai se desfazendo, lentamente.
Já desenhei muito sobre isso, sobre a pariedade entre a pedra e as sementes e a questão de serem casulos. Casulo, a pele que proteje o ser enquanto ele muta. Processo que acontece a revelia da consciência, este véu-casulo venda, com suave gaze, quem está fora, assim como quem está dentro, ninguém sabe o que está acontecendo, mas sabe que está diferente. Não vê, está enclausulado pela pele dos olhos. Mas tá diferente. Os olhos da pulpa são os primeiros a se transformar, eles começam a ver diferente. Só depois começam a parecer diferentes.
E na pedra? O que muda? Ela vai despelando, lentamente o instante aprisionado se revela em tempo. E se esparrama sobre nós.
A semente já é puro conteúdo, alí dentro, compacto está um ser inteiro, que só precisa do tempo para se desenvolver. Mas, quer saber? Nunca foi propriamente a semente que me interessou, olho para a casca da semente, pro casulo. Que continua alí com o mesmo formato até se desfazer, apodrecer. Enquanto o ser cresce, o casulo apoderce e volta a ser terra.
Da pedra também mina a água, a pedra deixa a água escorrer. Na pedra não nasce nada, só caminha. Se caminha sobre as pedras, feito as águas. A água e o vento esculpem o tempo das pedras.
A pedra, de certa forma é o fogo. Contém o fogo, duas delas são capazes de libertá-lo. A pedra tem o calor, é o calor manifesto. Da memória da criação.
Será que podemos acessar nossa memória da criação? ...deve ser a mesma da morte. O nada. A possibilidade no escuro da não e da total consciência. O lugar vazio e pleno. Onde os opostos se deitam lado a lado e se tornam um. Lá onde se faz a criação. Pela morte. Pela dissolução.
Outra coisa que nasce das pedras são as cores. Todas elas. As que somos e que vemos. E as cores escapam e se misturam em novas combinações. O calor é outro que dá cor. O calor contido nas pedras.
A pedra continua sendo pedra mesmo partida em mil pedaços, só muito depois que vira areia...ou cor.
Sempre se cozinhou sobre pedras.
A pedra pode ser o casulo do fogo.
E o fogo pode ser o casulo do tempo
Enquanto houverem pedras, teremos tempo.